quarta-feira, 9 de março de 2011

poesia de ÁLVARO DE CAMPOS [Fernando Pessoa]

TABACARIA


Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estarão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas –
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas – ,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.

Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo.
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrama-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu Sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordámos e ele é opaco,
Levantámo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida).

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, sem rol, p'ra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno – não concebo bem o quê – ,
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo).

Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortaram o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.

Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.

Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, e eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?),
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz).
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.

O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o: é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta).
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

.
1928

terça-feira, 30 de novembro de 2010

29 Novembro 2010

Por fim,

aqui volto.

["Que helada que está esta casa... ¿Será, será que está cerca el río o es que entramos al Invierno y están llegando los fríos?"]

:

Volto de mais uma consulta de peneumo (a última foi em Setembro...); a Dra Érre não está para perder tempo com resultados medíocres. Não a posso censurar. Afinal de contas há muita gente a tentar o mesmo que eu. Os resultados deles? Não imagino.

.

Marcou-se a próxima consulta para final de Fevereiro. Como se se sublinhasse: VEJA-LÁ-SE-ME-APARECE-COM-OS-RESULTADOS-QUE-SE-ESPERAM,-TENHO-MAIS-FREGUESES!

Ajudas? Dicas? NADA!

.

Desde Agosto que algo se quebrou neste processo que parecia ir indo muito bem encaminhado. Algo se quebrou. Eu não sei o que foi; não sei onde se deu a ruptura. Não sei como restaurar aquela corda não-bamba onde me equilibrei desde 21 de Junho. Naturalmente, o problema não está na corda tensa, senão no meu (des)equilíbrio. Se caír (ai de mim!), com rede ou sem ela, não será morte de artista: é só levantar-me, com a dignidade de quem não pretende ser mais que humano, subir a escada de cordas, endireitar as costas, concentrar-me e enfrentar, de novo, o cabo.

De novo, passo-a-passo.

Diz-se que: "O MAL NÃO ESTÁ EM CAIR; ESTÁ, SIM, EM NÃO SE LEVANTAR"

.

A Dra Érre confessou-me hoje, ter 'temido', na última consulta, que eu acabasse por desistir.

Desistir, não.

Mas estou a ter dificuldade(s). Muita(s).

Ajuda(s), só a minha. ¡No llega!

Em verdade, em verdade te escrevo, my DIARY, que os medicamentos não fazem milagres... nem ajudam a que se cumpram... não são, exactamente, nem palavras mágicas nem pozinhos-de-perlim-pim-pim.

Assim fossem!

[Salagadula Mexicapula, Bibidibó Bidibu, put it together and what that you'll get?: Bibidibó bibidu!] (this was long, long time ago...)

.

Estou tão cansado. Eu sei que muito contribuí para lixar a minha própria vida!, mas é esgotante tentar remendá-la.

Caramba! É pedir muito ter um apoio ou outro? Será madureza minha? Uma excentricidade?

.

Meu Diário, sinto-me sozinho num campo de batalha, sem escudo, sem espada, lutando contra um inimigo invisível e imprevisível.

Fumar mata.

Mata de cansaço deixar de fumar.

.

Vou deitar-me.

Não ter dormido quase nada, esta noite que passou, também não me ajuda.

.

Por agora,

"fecho-te as folhas devagar, com jeito".

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

a 14 de Outubro de 2009 - Quarta-Feira

Debaixo do fumo
de um cigarro
aceso
encontrei o cimo
de 1 lugar
sem peso.

.

by ?



"Love At First Sight"

by Eduardo Abrantes

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

FUMADOR FAMOSO

Je ne sais si je serai ce héros
Mais mon cœur serait tranquille…
.
.
Jacques Brel
Quand on n’a que l’amour
Pour vivre nos promesses
Sans nulle autre richesse
Que d’y croire toujours…
.
.
Jacques Brel
Quand on n’a que l’amour
Pour tracer un chemin
Et forcer le destin
A chaque carrefour…
.

.
Jacques Brel

sábado, 25 de setembro de 2010

AGORA é que VÃO SER ELAS !!!

Diary, my Diary,
.
ESTOU EM APUROS:

meu Grilo-Falante está desapontado comigo!
Furioso!
Ralhou-me e tudo!:

- Que já não tinha idade para fazer RONHA!;
- Que ‘bonito’ EXEMPLO que estou dando aos meus Filhos;
- Que LEGITIMIDADE julgo eu ter, assim, para exigir e reclamar EMPENHOS e ESFORÇOS aos Miúdos?;
- Que raio é que me deu cri cri cri? Ckry? Krea!!;
- Que raio cri-cri-cri, cri ‘riy era eu??;
- Cri Crriii ckckckcrrrryyi!


(Nunca vira, antes, um grilo fora de si!
Virado do avesso.
É um espectáculo dispensável!
Tipo: OLIRG!)
*
*
.

*

Como castigo, encomendou-me os seguintes exercícios, a apresentar
com RELATÓRIO DE CONCLUSÕES:

Os Exercícios resolvidos :












Como o resultado/balanço do Relatório de Conclusões era igual a 12 meses de ronha controlada (ipsis verbis),
o Grilo MANDOU-me REDUZIR a malandragem (sic)
para 5 (cinco) meses.


«No teu mês de Março, já não quero saber de fumaças por essas ventas!», disse e, apontando as antenas ao meu nariz, continuou: «Estamos entendidos?»
«Matulão!... Mandrião! Calão!», rematou. E virou-me costas.




Agora, vê tu bem, meu Diary:

Tenho a minha vida controlada por um GRILO-IMPERATIVO.
Mas por que é que a minha vida não é normal, como a dos outros grilos?
Ops! Quero dizer: como a vida das outras PESSOAS?

Um grilo!
Não me faltava mais nada!

Eu que nunca conheci a Fada-dos-Dentes...
Nem o Homem-do-Saco. Nem a Cegonha-de-Paris...
Só uma vez na vida vi o Pai-Natal,
mas OBRIGARAM-me a ACREDITAR que era uma Estrela-Cadente.
Ou, então, era do ASTIGMATISMO.

Nunca mais acreditei em nada do que via.
Mas eles ficavam surpreendidos por eu não ter medo do Comboio-Fantasma.

Tenho mais medo deles que de Fantasmas que viajem de comboio! (Mas não lhes confesso isso!)

Agora um grilo!?...

Esta só posso, mesmo, confessá-la a ti, meu Dia-A-Dia!...

domingo, 22 de agosto de 2010

1. 2. 3...

1.

Existe em mim.
Dentro de mim – no cérebro ou no peito,
atrás dos olhos, não sei onde, não sei... – um lugar,
um espaço,
um sector,
seja o que for (que eu não sei), envolto em neblinas,
desfocado, confuso, fugaz, embaçado,
descorado,
indefinido – sem forma, sem nome,
sem calor ou frio...
que não é meu e inda assim o é.
Que sendo meu não me pertence,
não o conheço,
que não sei de onde vem
mas que se instala, muito à sua vontade, no seu conforto,
deixando-me desconfortável e sem vontade.

Toma conta de mim mas de mim não cuida.

Vive em meus sonos
e acorda quando eu.
Toma o mesmo café que eu tomo.
Veste-se-me.
Enrola-se-me.

Acompanha-me sem que me faça companhia
e
embaça a minha vida todo o ano:
da Primavera ao inferno.


2.

Há uma urgência.
Uma sensação de não ter tempo;
de não ter mais tempo...
de ser já tarde.
Irremediavelmente tarde!
Há um sentimento de haver esquecido...
... Algo muito importante que me escapa, que não acho...
... mas a certeza de o dever ter feito.
Há um sufoco.


3.

Sinto-me tentar cruzar um caminho com dois sentidos
e
um tráfego intenso e desmedidamente veloz.

Sou empurrado pela direita.
Sou empurrado pela esquerda.

Acabo chegando...
... não sei a onde...,
como se depositado pela espuma do Mar que me arrasta,
depois de as Ondas se encontrarem cansadas de haver zombado de mim:
rebolando-me o corpo e
enrolando a minha consciência do eu,
do meu.
Do onde
e
do quando.
E, à beira-mar duma praia que desconheço,
não encontro alma-viva ou salvador que possa,
pelo menos,
ensinar-me como sair de lá.
De ali.
Dalí.

O cansaço feito sonho esmagado e amassado com a realidade...
Surreal. Sem idade, sem inocência.
Sem força.
Sem coragem.
Os meus olhos sem miragem.
Sem mantimentos p’ra viagem,
sem mapas na bagagem...
Sem um banco na paragem.

Sem tempo na contagem.

Tanto esforço sem vantagem.
(Tanto faz ter o leito ou ser a margem...)

sábado, 21 de agosto de 2010

21 Sem(A)gosto 2010

(...)
“– Porque é que és só pressentimento,
minha Vida?”

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SEBASTIÃO DA GAMA
in Versos Quase Tristes, Fev 1945
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QUEM, AFINAL, SOU EU?
..Auto-Questionário Tac-à-Tac..
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O MEU MAIOR DEFEITO:
Pôr à frente dos meus, os interesses alheios.
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A MINHA OCUPAÇÃO:
Bombeiro Sapador Involuntário.
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O MEU HOBBY:
Ser Pau-Para-Toda-A-Colher.
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O QUE OS OUTROS VÊM EM MIM:
Um Confessionário.
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A MINHA IDADE:
Muita. Demasiada para os anos que já (sobre)vivi.
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A MINHA MAIOR VIRTUDE:
Não possuir vida-própria.
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O MEU MAIOR ERRO:
Ter acreditado que ser feliz era possível.
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A MINHA GRANDE INGENUIDADE:
Crer ter direito a Tempo e Oportunidades só para mim.
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A MINHA MAIOR DESFAÇATEZ:
Gostar de saborear o Bom que a Vida dá, ainda que seja pouco.
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A MINHA MAIOR VELEIDADE:
Querer muito, muito Paz e Serenidade.
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O MEU DIA DE SORTE:
30 de Fevereiro.
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OS MEUS ACESSÓRIOS IMPRESCINDÍVEIS:
Algemas e Grilhetas.
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AS MINHAS COMPANHIAS DE ESTIMAÇÃO:
Os meus bafientos fantasmas.
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O MEU MELHOR AMIGO:
O Azar.
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UMA AMIGA SEMPRE PRESENTE:
A Solidão.
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O LUGAR QUE OCUPO NO TEATRO DA VIDA:
Nenhum. Quem projectou a Sala não contou comigo.
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A MINHA MORADA:
Rua da Incerteza, nº 13 – Bairro da Angústia.
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O LUGAR ONDE VÃO DAR TODOS OS MEUS PASSOS:
A um qualquer Beco-Sem-Saida. Ou sempre ao mesmo.
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UM PASSEIO RECORRENTE:
Ciclos-Viciosos.
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UMA PERGUNTA QUE GOSTASSE VER RESPONDIDA:
Duas: Porquê? & Como?
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O QUE ESCOLHERIA, AGORA, PARA BEBER :
Chá-de-Sumiço.
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[Hoje, e até ao momento, já fumei 12]
(Quando vou eu ser presenteado com um bocado de Paz?)

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

20 Des(A)gosto de 2010

“Foram montanhas? Foram mares?
Foram os números...? – Não sei.
Por muitas coisas singulares (...)”

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by Cecília Meireles
in Canção A Caminho Do Céu
(excerto)
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Sem despedidas na partida.
Sem cumprimentos à chegada.
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Como fui,
assim voltei...
with no fuss.
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Quem foi que disse? : “Saíres daqui, por uns dias, vai fazer-te bem.”
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[Sair, SIM, faz muito bem!] [ às vezes...]
[Pior é o regresso!...]
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[Eu bem sabia! que
um dia viria em que uma RECAÍDA & um qualquer FRAQUEJAR chegariam
para me atormentar. Esta casca-de-noz por si mesma feita fragata, feita falua...]
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Tanto Tejo para navegar!...
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Tanta pergunta para perguntar!...
– Valerá, mesmo a pena?...
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Tanta dúvida a angustiar!...
– Até quando resistirei?...
– Até onde reduzirei?...
– Por quanto tempo o conseguirei?...
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Tudo, em nós, está ligado... duma maneira ou de outra.
Como elos numa corrente, o falhanço de uma argola compromete
a robustez solidária do conjunto.
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Algo falhou nestes últimos dias.
A minha ‘corrente’ não é assim tão resistente...
A vontade não foi o bastante. Muito há, em mim, enfermo de reforço, carente de substituição, faltado de reparação. Falto eu na minha vida; falta-me VIDA em mim.
E tempo!... e tempo...
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Na última consulta com a Ψcóloga, dizia-me a Dra S que os medicamentos não são poções mágicas. Que os meus, até então, resultados positivos só foram possíveis por mor das minhas determinação e ganas...
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[Soube muito bem ouvi-lo,
embora suspeite que a Dra o tenha dito apenas por recear que eu desanimasse... que não gozasse de suficientes ‘aplausos’ e/ou incentivos... Soube bem, quand même.]
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[Mas, ter-mas-ão perdido no aeroporto?
Como posso reclamar?
Fazem-me falta. Muita.]
.
.
Sair, SIM, faz muito bem!...
(Às vezes...)
Pior é o regresso!...
(Regressar, SIM, faz muito mal!...)
(Quase sempre...)
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O regresso àquilo que Está-Cada-Vez-Mais-Sempre-Na-Mesma, depois de uns dias de higienização, é golpe duro.
É balde-de-água-fria.
Faz-me reflectir sobre as vantagens de “sair-daqui-por-uns-dias”.
Pudera eu sair daqui por todos os dias!...
Pudesse eu passar a limpo este bosquejo esborratado que são o meu ontem, hoje, meu amanhã; o meu (d)aqui e meu de lá.
O donde-vim que aqui me trouxe... e trazendo, me traz agrilhetado.
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FRAQUEJEI.
FRACASSEI.
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Tenho, agora, à perna o RECOMEÇAR.
A partir de uma estaca que nem sei bem qual...
Mas é inequívoco o TRAMBOLHÃO!
MERDA!
PORRA!
CAGALHÃO!
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RECOMEÇAREI.
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Na ânsia de dar despacho a tudo (ou àquilo que me fosse possível) antes de viajar, acabei rasgando e deitando para o Papelão o Registo do meu Consumo do mês de Julho. Dei por isso ainda em Lisboa, mas demasiado tarde!
Fiquei danado quando dei pela ESTUPIDEZ!
.
[Eu tenho obrigação de saber (e até sei...) que PRESSAS originam ACTOS IMPENSADOS – logo: ASNEIRA(S)!]
.
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Enquanto estive ausente, acabei não conseguindo disponibilidade para registar todos os valores de consumo.
.
SEI, contudo, QUE ME ESPALHEI ao COMPRIDO!

Ainda assim... l'allure...

Ana Zanatti por Maluda, em 1974

domingo, 25 de julho de 2010

FLASHBACK # 3

Tinha 13.
Ou por lá perto...
Sim!, eu teria uns 13 anos e era Sábado.
Primavera?
Talvez...

Nesse tempo, havia aulas aos Sábados, de manhã.
Nesse tempo, nós tínhamos aulas aos Sábados de manhã!

Acordo.
Cedo?, ou tarde?
Isso, já só Deus se lembra.

Nesse tempo, custava-me um pouco levantar cedo.
Nesse tempo, se me deixassem, dormia 10 horas seguidas.
Nesse tempo, NÃO DEIXAVAM!
Nesse tempo, não se deixava, dot.sem (argumentos, claro!). Dot.com uma sensação de tirania exercida sobre os mais fracos.

Saí da cama.
Levantei-me, portanto.
Começava a acordar. Devagarzinho... parte... por... parte... até abrir os olhos.
E os ouvidos. Que ouviram.
Ouviram minha Mãe bradando, corredor adentro, corredor afora.
“Só me dão desgostos!... É só para isso que servem; é só isso que sabem fazer...”, choramingava a mais doce, a mais bela das Mulheres. A mais extremosa das Mães.
“A-Mais-Velha já fez das suas!...”, julguei.
Julgamento feito na pessoa de MC, minha Irmã mais velha.

Nesse tempo era fácil, e por isso frequente, atribuir culpas a MC, A-Mais-Velha.
Nesse tempo, MC dava muito material para isso.

Saí do quarto.
Ao cruzar-me com a Mãe, beijei-a e desejei-lhe um bom-dia, como era hábito.
O que não era hábito, era minha Mãe reagir e responder-me tão secamente!...

Nesse tempo, (quase sinto nostalgias...),
nossos cumprimentos eram muito lambuzados, muito repenicados...
Nesse tempo, namoriscávamos um pouco, minha Mãe e eu.

“Homessa!...”, espantei-me cá para o meu dentro.
“Se a Mãe me cumprimenta deste modo,
... numa manhã...
... e uma manhã de Sábado...”, eu começava a tirar conclusões...

Nesse tempo, era comum termos que resolver equações bizarras,
lá em casa, antes mesmo do pequeno-almoço.

“Ora, bem: se a Mãe me recebe assim... e, à primeira vista,
MC não está em contacto...”, constatava eu,
deitando o olho ao seu quarto, mesmo ao lado do meu.
“... Ora", seguia o meu raciocínio, "... A-Mais-Nova,
está fora de questão!”, disso eu não duvidava!

Nesse tempo, MP, a Mana mais nova, estava acima de QUALQUER SUSPEITA!
Nesse tempo, A-Mais-Nova era o “Torrãozinho-de-Açúcar”,
“O-Botãozinho-de-Rosa”.
Nesse tempo, MP era mesmo inocente, fosse lá do que fosse.
Nesse tempo, qualquer um punha suas mãos no fogo por MP.
Bem..., quase qualquer um...

Não havendo mais filhos, não havia mais presumíveis culpados.
Não restavam muitas hipóteses: “Bem, só posso ter sido eu!”, conclui.
“Mas que raio terei eu feito, que tamanha dor causasse no
amoroso coraçãozinho da mais bela das criaturas???...”, buscava eu nas gavetas e prateleiras do meu cá dentro.

Nesse tempo, a atenção que me era concedida era tão pouca...
Nesse tempo, eu fazia qualquer coisa que contentasse a Mãe...
Nesse tempo, todas as minhas desobediências, todos os meus
disparates, criancices... não chegavam a fazer mossa...
Nesse tempo, não havia consequências graves ou visíveis
por conta das minhas obras.
Nesse tempo, eu já fazia das minhas!

Segui caminho.
Optei, pelo-sim-pelo-não, por 'não me aperceber' que havia caso.
Entrei para o duche.
Saí do duche.
Entrei no quarto para me vestir.
Saí, pronto para o rápido pequeno-almoço.

Nesse tempo, ainda tomava pequeno-almoço antes de ir para a Escola.
Nesse tempo, ainda tomava pequenos-almoços.

Num meio-tempo...
algures, entre o meu quarto e o pequeno-almoço, minha Mãe,
por fim, aborda-me:
“Olha, lá: tu andas a fumar.”, disse.
Disse. Sem pontuação.
Não era uma exclamação...
Tampouco uma interrogação.
Mas não era, também, contudo, uma afirmação.

Nesse tempo, até então, nunca tinha ouvido alguém falar sem pontuação.
Nesse tempo, ainda havia muito que eu nunca tinha.

“Vieram dizer-me que te viram a fumar na Escola!”, continuou,
desta vez já havia veemência na sentença.
Eu neguei.
Eu espantei-me.
Indignei-me.
Eu insurgi-me.
Eu...
Eu não ganhei o Óscar
porque não fui nomeado.
Eu morreria negando tal.

Nesse tempo, eu não tinha inimigos...
Nesse tempo, eu também não tinha amigos...

Enquanto contracenava com o verdugo, ia crivando e descartando
os nomes duma lista de possíveis bufos.

Nesse tempo, frequentemente, a nossa actividade intelectual tinha início muito antes de nos sentarmos na carteira da Escola.
Nesse tempo, frequentemente,
antes mesmo, de nos sentarmos à mesa do pequeno-almoço.

“Mas viram-te!”, insistiu.
“Pois... terão visto mal!”, defendi-me.
“Confundiram-me com alguém. Lá na Escola,
toda a gente fuma na Sala de Convívio... Se calhar era outro qualquer...
... que talvez estivesse próximo de mim...”, argumentava, esquivando-me.
Argumentava, esquivando-me e remoendo o meu cá dentro!
“Ããããããmmm... Hummmm...”:
MATAVA a CHARADA!:
Só havia um alguém que, me conhecendo a mim, conhecesse
minha Mãe - chegando-lhe às falas e coexistisse na mesma escola que eu.
Cabra! Grande cabra!!!”, revoltei-me cá para dentro.
“Que motivos teve aquela mosquinha-morta para me denunciar?”
“Eu que sempre fui simpático para ela...”
.
A minha argumentação e o meu trabalho facial pareciam haver convencido a Mãe.
A Escola estava à minha espera, não esperando por mim.
Voltei ao quarto.
Voltei ao quarto para pegar nos Livros e Cadernos.

Nesse tempo, eu adorava levar para a Escola os Livros,
os Dossiers, o Estojo... TUDO... empilhado debaixo do braço.
Nesse tempo, tinha fôlego e genica para isso.

Possivelmente, escolhi um pull-over para pôr nos ombros.
De certo, verifiquei se o colarinho da camisa estava impecavelmente composto.
E, sem qualquer dúvida, foi
detrás da colecção dos Livros de Júlio Verne - que morava na mesma prateleira onde moraram “Os Cinco”, “Os Sete”, “A Colecção Mistério” e todo o aventuroso mundo de Enid Blyton, e onde, de entre outras tantas preciosidades, também lá habitaram: o “Aconteceu nas Berlengas” de Margarida Castel-Branco, soberbamente ilustrado pela própria, ou o “Emílio e os Detectives” de Eric Käztner, ou “Poly em Espanha” de Cécile Aubry, ou o “Fernão Capelo Gaivota” de Richard Bach, ou, ainda, de José Mauro de Vasconcelos:
O meu Pé de Laranja Lima” e “Vamos Aquecer o Sol”....
Sem qualquer dúvida, foi detrás dessa muralha.
Detrás dessa muralha que me guiou nesse tempo e noutros tempos, que,
sem qualquer dúvida,
sorrateiramente, retirei o maço de SG Filtro e,
furtivamente o re-escondi no, original, cano das meias, sob a calça esquerda.
Tenho a certeza que era a esquerda.
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Com o mesmo ar seráfico, mas marcadamente ofendido,
insultado,
injuriado,
injustiçado

beijei minha Mãe: “Até logo.”
“Até logo, filho! Levas dinheiro contigo?”
“Sim, Mã!”
“Vê se comes algo a meio da manhã, ouves-me?”, recomendava-me enquanto o elevador descendia rumo ao R/C... e eu rumo à clandestinidade.
.
(Tinha, agora, que me pôr em guarda!... A GRANDE CABRA!)

24 para 25 de JULHO

Ora, viva!
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Hoje o dia, embora mais longo, foi MUITO mais s~e~r~e~n~o!
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Acabo de chegar de casa dos Kids, onde os fui levar. Foi, sem dúvida, um dia menos stressante que o de ontem.
Viemos todos a cantar no carro, a caminho de sua casa...
Fizémos dançar o carro, ao rítmo Disco (não dos BeeGees, mas dos ABBA) que escutávos no CD...
E bem agradáveis foram o jantar e o final da noite!
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Como tudo aconteceu assim, FUMEI MENOS.
Até agora (e vou já para a caminha do óó), fumei 07 cigarros.
É bem provável que fume um 8º, antes de escorregar para os braços de Morfeu.
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Não igualo o anterior record mas, ainda assim, "salvo a Honra do Convento"... Aquilo d'ontem, foi uma VERGONHA!
("No melhor pano cai a nódoa!", é o que é!...)
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Cabe-me, agora, tomar consciência dos aspectos a TRABALHAR em mim, uma vez que já tomei consciência que não estou tão protegido assim, nem tão forte assim, para que nos momentos/episódios de tensão resista a"resolvê-los" com fumaças.
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Isto é um processo de tese... Um tratado, no final.
De certo, um item para REFLEXÃO.
De certo que SIM.
Mas não hoje.
Não agora.
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Vou recolher à cama que me viu acordar esta manhã.
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Dorme bem, meu Dia-a-Dia!

sábado, 24 de julho de 2010

23 / 24 JULHO 2010

DIARY, my DIARY,
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naturally, the Children are already in bed, sleeping.
I’m feeling better… well… at least I don’t have to pretend, to play The Officer while they dream (on nonsense things for tomorrow…)
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Quanto às marcas olímpicas… je suis désolé!...
Chapa ganha, chapa perdida... hélas...
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Amanhã, ié:
mais logo, que seja tudo mais calmo.
Mais logo, que saiba controlar-me melhor.
Mais logo falamos mais!
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Cheers!
Até mais logo!
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P.S. : a pressa não é para ir correndo para a Night na 24 de Julho. Data esta, aposto, que quem lá passa ou lá frequenta, não 'tá nem aí.
24 de Julho de 1833 : As tropas Liberais de D. Pedro IV (Imperador do Brasil) entram em Lisboa, vitoriosas contra as tropas Absolutistas de D. Miguel (irmão de D. Pedro IV e Rei "substituto/interino" de Portugal).
REPARAI, OH JUVENTUDE: quem figura na estátua em bronze na praça do Cais do Sodré? Cais do Sodré, esse, que é um dos limites da Avenida 24 de Julho. Praça essa cujo topónimo é 'PRAÇA do DUQUE da TERCEIRA'.
Pois é! O bacano da estátua, é o Duque da Terceira, o homem que comamdava as tropas de Dom Pedro IV (Pai da Princesa Maria, que viria a ser a futura monarca do reino, como Dona Maria II).
Entre 1 shot & outro, os bacanos não falam népia destas cenas? Tás a ver?
Tásse bem!
YÁ, tásse...
(acho...)
See you!

sexta-feira, 23 de julho de 2010

23 JULHO 2010

I SEND an S.O.S
Meu Diário,
ajuda-me!
Ajuda-me a ser FORTE!
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Hoje cedo, publiquei o GRÁFICO de CONSUMO dos últimos 30 dias.
Senti-me tão orgulhoso de mim!
Inda por cima remato-o com um novo RECORD (07 cigarros)...
... Horas depois... algo se desmoronou...
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Tonight I have my Twins with me.
They will pass this night in my place and the Saturday as well.
My Kids do nothing to my nerves!
They TRY MY PATIENCE!!!!
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Until they arrived, about 6:30 pm, I had smoke only four cigarettes.
Before 08 o’clock, I had smoke seven!
Right now, I’ve smoked 10!
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Lord.
My LORD!
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Por que raio de razão me deixam tão stressado?
Será que gostam de me ver assim?
Será que, para eles, dá igual?
Que poder é este?
(Que força é esta, inimiga?)
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Mesmo quando pensámos e pretendemos
passar HORAS-DE-NÃO-OBRIGAÇÃO-DE-COISA-NENHUMA!...
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Eu não entendo.
Eu JURO que NÃO!
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São eles?
ou
Serei eu?
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Quem deverá reavaliar-se?
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Já espumei um pouco. Já ataquei furiosamente nas Xiquelétes.
A ver se acalmo...
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OBRIGAGADO pela Lombada Amiga!

BALANCÉ / BALANCETE (sem babete ou palacete) / um BALANÇO / no BALOIÇO (que já oiço, que já oiço...)

Ontem, 22 de JULHO,
completou-se o primeiro período de 30 DIAS de
REGISTOS do meu CONSUMO de CIGARROS.
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Hora, talvez, para umas REFLEXÕES..., para uns BALANÇOS...
Hora, talvez, de fazer uma AUTOCRÍTICAzinha...,
de receber umas CRÍTICAS D'OUTREM...
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Boa Hora, com certeza!
Mas, para já, segue o GRÁFICO.
(clik sobre a imagem da postagem anterior, já aqui em baixo, para aumentar)

Eis o GRÁFICO :

COMENTÁRIOS
ANÁLISES CRÍTICAS
CRÍTICAS ANALÍTICAS
SÃO BEM-VINDOS!

quinta-feira, 22 de julho de 2010

22 JULHO 2010

DIARY,
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passo apenas; não demoro.
Passo para pôr as contas em dia:
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Ontem fumei 10 cigarros.
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Já fui!.............

ACERTO de CONTAS

Há que actualizar o contador!...
(Afinal, já não apresento números faz tempinho!)
ASSIM:
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  • 14 JULHO fumei 09 cigarros;
  • 15 JULHO fumei 10 cigarros;
  • 16 JULHO fumei 10 cigarros;
  • 17 JULHO fumei 08 cigarros;
  • 18 JULHO fumei 09 cigarros;
  • 19 JULHO fumei 09 cigarros;
  • 20 JULHO fumei 08 cigarros;
  • 21 JULHO apresento durante o dia claro de 22 (até ao momento fumei 09. Não sei o que conseguirei, até adormecer!...)

"Contas com o Jorge, Jorge na rua!"

(Alguém haverá que, ainda, se lembre desta expressão?)

Qu'est-ce que je vais chercer là?...

quarta-feira, 21 de julho de 2010

21 JULHO 2010

Meu, Dia-a-Dia
( melhor dizendo: Meu-Tem-Dias! ),
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tenho estado alheio, eu sei.
Não, não te esqueci!
Não, não te troquei por outro, nem pelo outro, que tb não é actualizado dès le 14 Juillet!
Tampouco desisti. De ti ou desta batalha que, por vezes, sinto ser comigo mesmo...
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Estive, apenas, um pouco mais preocupado e ocupado do que o costume... e um tantinho desmotivado. Foi só.
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Aqui estou. Voltei.
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Hoje foi dia de Consulta de Psicologia, em Santa Marta, mas disso falo (escrevo) mais logo.
Como tenho feito gazeta, prefiro contar as coisas com a coerência Cronos:
Antes de Hoje ouve um Ontem...
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(Isso já tu sabes, eu sei! Que queres?, deu-me para o lado La Paliceano do raciocínio!...)
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... e ontem foi, tb, dia de consulta...
Esta, contudo, não agendada... Foi uma urgência.
Com esta furiosa troca de cigarros por 'Xiquelétes', para além das dores nas dobradiças das mandíbulas, começou a doer-me o ouvido esquerdo.
Como não pareceu querer passar, liguei para a Médica de Família.
Que: "Sim, sim estou a ver."; que: "Venha, venha... até à uma."
E lá abalei.
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Uma de três coisas podia ser o motivo das dores... ou... o conjunto de duas delas... ou ainda... as três juntas,
na minha perspectiva.
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Primeira coisa que podia ser motivo:
DURMO DE JANELA ABERTA e POR BAIXO DELA;
Segunda coisa:
O MASCAR CONSTANTE E INTENSO DE 'Xiquelétes' PODIA TER PROVOCADO UMA INFLAMAÇÃO ALGURES;
Terceira coisa possível:
O EXERCÍCIO DESALMADO DE MASCAR TODO O DIA TER-ME-IA FEITO SOLTAR UMA PORÇÃO DE CERÚMEN, O QUE PODERIA ESTAR FAZENDO PRESSÃO ALGURES NO OUVIDO.
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Pois bem: nem cerúmen nem inflamação. "Otite, não tem.", disse-me a Dra. Susana (a minha Dra está de férias...), "Agora, se me diz que mastiga muito e muitas pastilhas... isso pode fazer a articulação do maxilar pressionar algo, por aí...", continuou.
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"Por que não tenta trocar as pastilhas por rebuçados?... mas escolha-os sem açúcar.", inquiriu, aconselhando-me.
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E por que não troco as pastilhas por rebuçados?, pergunto-me eu.
PORQUE NÃO GOSTO, ASSIM TANTO, DE REBUÇADOS!!!
E porque DURAM MUITO MENOS TEMPO!...
Não RENDEM...
respondo-me eu!
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Seja lá como for, terei que seguir a sugestão ou encontrar uma outra qualquer. Desde que não tenha açúcar e desde que não me obrigue a mascar.
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A minha vida EXIGE, SEMPRE, TANTO DE MIM!!!!
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[O pior de tudo isto: das privações, dos controlos, das reaprendizagens, enfim destes pequenos/grandes SACRIFÍCIOS/EXIGÊNCIAS a somar ao resto da complicação e complexidade das vidas própria... O pior de tudo isto, dizia, é eu saber que, até, sou capaz de suportá-los... Mas, ai, o que isso me custa! É uma vida inteira de renúncias e moínhas. Por isso sei que sei sofrer. Só NÃO ME APETECIA ter de SUPORTAR mais NADA QUE NÃO FOSSE ALEGRIA E SUAVIDADES até ao fim dos fins.]
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Também não é uma ópera!
Eu não quero que o seja.
Eu não vou deixar que!
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Se é para trocar pastilhas por rebuçados, pois que se troque! CUMPRA-SE!
Eu até cheguei, criança ainda, a beber leite com nata (o que, normalmente me dava vómitos...), e a mastigar e engolir os 'nervos' dos bifes...
SOBREVIVI!
... pois se já sobrevivi a coisas piores...
A PROVA é que ainda aqui estou... e nada mal para a idade!...
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Este episódio acaba com uma receita de um medicamento muito conhecido. "Mas apenas se as dores piorarem... ", advertiu-me, "Olhe que é um S.O.S!", certificou-se da boa compreensão da mensagem.
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Hoje tentei não mascar... mas não pude evitar. Por um lado, a medicação que estou tomando faz-me seca a boca. Era esperado. Faz parte dos efeitos secundários.
Por outro lado, hoje acordei muito tarde (a medicação dá-me uma 'pedrada'!...) e perdi um pouco a noção do tempo... não dei pelas horas passarem.
Daqui resulta que, quando vi as horas, estava atrasadíssimo para a consulta com a Psi!
Tentei avisar a Dra S que iria chegar mais tarde - mas que estava a caminho! - mas tive de deixar recado.
Daqui até lá chegar foram alguns minutos de alguma tensão... Detesto chegar atrasado, aonde quer que seja. Detesto não poder controlar coisas tais como a demora do Bus.
Fumei 1 cigarro na 1ª paragem. Assim que olhei o painel e vi que se previa que o meu autocarro demoraria 15 MINUTOS a chegar... não me contive... embora não fosse hora, fumei um cigarro.
Quando, por fim e após o 2º autocarro, cheguei à paragem que me convinha, fumei outro. Pelo caminho, fui fumando e correndo. (Eu sei que faz mui bem à saúde!...)
Se bem me lembro ("onde é que eu já ouvi isto?")(não é nenhum trocadilho à custa do saudoso Vitorino Nemésio... saiu assim... foi só.)
Se bem me lembro, escrevia, estaria a fumar o meu 4º cigarro da jornada. (Na pior, seria o 5º... confesso que, embora os tenha contado em frente à Psi (de mote próprio!), não consigo sentir-me seguro quanto ao número que oscila, certamente, entre 4 ou 5.)
Toda a correria: do autocarro até ao Hospital; no Hospital, o subir as escadas 2 a 2 (Juro que não tenho paciência para esperar elevadores, quando estou com pressa!), fez-me chegar ao gabinete com a boca sequíssima. Mal conseguia articular as palavras.
A Dra S sugeriu-me que me fosse refrescar ao WC. Agradeci e assim fiz. Bebi água. Voltei ao gabinete e, por fim, sentei-me.
Muito pouco tempo depois, de novo com a boca seca, acabei por retirar uma 'Xiqueléte', só uma! e mastiguei-a muito suavezinho... e com os incisivos. Quase não movia os maxilares... e deste modo pude conversar sem a dificuldade da secura.
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Falámos coisas interessantes.
A minha reacção à anterior consulta com a Pneumologista - aquela postagem na qual praguejei a vermelho... - foi um assuntos que abordámos.
Falámos de mais coisas... que... não consigo recordar, agora... Amanhã quero fazer o exercício de rappel. (É importante, para mim.)
Contudo, lembro que, quando disse que entrei nessa outra consulta cheio de expectativas e entusiasmo "como as crianças, quando querem agradar e surpreender a Professora com um TPC irrepreensível...", usei esta frase, a Dra S remata, "Como nós somos", "Sim, de facto sou um pouco criança", reavaliei.
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É engraçado!, pareceu-me, pelo modo como o disse, pela expressão do seu rosto, que havia uma espécie de ternura pela minha atitude naïf...
(do género: "Que fofo!")
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Mas,
o(s) ponto(s) central(ais) da nossa conversa foi(foram):
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"Por que razão acha o Pedro que este processo de desabituação lhe está a parecer muito fácil e rápido?"
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"Porque acha que vai chegar um dia de volte-face, em que, julga, haverá um retrocesso?"
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"Será que está a aplicar o mesmo modelo pelo qual já passou, anteriormente, noutras situações?"
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Questões assaz interessantes!
Conversa interessante.
Diálogo! Não só eu a falar... há feedback do outro lado.
Muito mais eficaz.
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Eu abordei a questão do QUERER DEIXAR DE FUMAR e o QUERER, NÃO QUERO, MAS RACIONALMENTE DEVO DEIXAR DE FUMAR.
Este ponto, que me parece importante, tenho de o trabalhar na cabecinha. Tenho de ter muito bem definido, em mim, aquilo que quero e POR QUE O QUERO.
QUERO PORQUE QUERO?
ou
QUERO PORQUE DEVO?
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Já se fez tarde. Vou.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

FLASHBACK # 2

Haveria de ser Setembro.
Só poderia ser Setembro!
Nessa época, só em Setembro meu Pai se juntava ao resto da Família para gozar as suas férias de Verão. E ele era presente neste episódio. Figurava, não mais. Mas estava; logo, era Setembro.

Saíamos da praia para almoçar e, logo depois, passar pelas brasas (aqueles que eram disso; eu cá não era! E quem o é aos dez anos?).

Ao largo daquelas toalhas estendidas, um saco de palha doirada, asas e remates vistosos de cores vivas e saturadas, entreaberto. E um maço de SG Ventil.
Parecia querer ajuda para sair da sacola... Parecia chamar por mim...
Ao passar por ele... não resisti. O cinza que vestia o maço, o celofane, ao sol, brilhava... pareciam prata e vidro.

Nestas entradas e saídas, havia sempre alguém que ficava para trás – se não era a Mãe ajoujada com os seus pertences + os baldes e pazinhas + toalhas de três filhos... era eu. Molengão!

Nesse final de manhã, hipnotizado por aquele paralelepípedo e pelo seu chamamento, deixei cair, ‘por acidente’, o saco que eu mesmo transportava. Junto àquelas toalhas ‘abandonadas’ pelos banhistas, seus donos, todo o conteúdo da minha sacola se espalhou, como fiz que acontecesse.
Enquanto o resto da Família ia avançando para a saída da praia, eu ia demorando a recolher o que, propositadamente, fizera verter (o boião de Creme Nívea, os calções de banho ainda molhados, um pente talvez, forminhas com formato de estrela-do-mar, em forma de concha-vieira, em forma de barquinho, em forma de)... ganhando tempo e calculando o momento propício para agarrar o maço juntamente com algo que legitimamente me pertencesse – como se traçasse um estratagema para salvar uma princesa encerrada numa torre muito alta.
Depois corri para o carro, que meu Pai já havia posto a trabalhar ao mesmo tempo que praguejava qualquer coisa acerca da minha demora:
“É sempre a mesma pessegada! Mas por que raio nunca estão todos juntos ao mesmo tempo? O que é que aconteceu, agora, ao rapaz?”, parecia excluir-se do grupo... talvez fosse apenas uma maneira de dizer a coisa... mas isso não interessa agora.

O almoço decorreu de modo razoavelmente normal, como costumava acontecer.
Bem, talvez tenha caído ao chão um garfo ou uma faca; talvez alguém tenha franzido o nariz à terrina da sopa; talvez algum guardanapo, ou a toalha, tenha ganho uma pastilha elástica colada à socapa.
O almoço decorreu de modo razoavelmente normal, como costumava acontecer.

Eu tudo fiz, recordo bem, para não sobressair... Não me convinha mesmo nada!

Assim que terminei a refeição, muito calmamente, pedi licença para me levantar e me retirar.
Licença concedida. Beijo à Mãe. Beijo ao Pai (ou qualquer coisa quase parecida com isso – um esboço, um esquiço, um paleo-cumprimento intervindo, levemente, os meus lábios e a sua barba).

Fui ao quarto buscar o fascinante pacote cinzento e, com ele num bolso qualquer, saí. Já tinha comigo dois terços de quanto precisava (liberdade e cigarros). Faltava-me algo para fazer lume... Não o podia pedir a alguém... Lembrei-me, então, que por detrás da imagem de Sto Inácio costumava haver uma caixa de fósforos para acender uma velinha ao Santo. Fui buscá-la, e então, corri até aos canaviais que proliferavam por aquela zona, chegando a fazer de muros de fronteira entre terrenos. Aí seria o lugar ideal para experimentar o meu PRIMEIRO CIGARRO. Suficientemente afastado da casa; suficientemente denso para me sentir em segurança.
Provido de tudo, bastava-me recordar o que minha Irmã mais velha (então com 14 anos e fumadora clandestina) me dissera uma vez que lhe perguntara como se fumava: “É pá, é fácil! Pões o cigarro na boca... a ponta que tem o filtro. E depois, é pá, acendes o isqueiro e pões o lume na outra ponta. Depois, pá, puxas como se fosse uma palhinha. Assim, ‘tás a ver?”, exemplificou, “E engoles o fumo... mas depois deitas o resto fora.”, e fez sair pela boca e pelas narinas uma fumaça acinzentada, parecida com as das chaminés das fábricas. (Parecia, também, um Cuspidor-de-Fogo, daqueles do Circo). “Vês? É fácil.”
É, de facto, parecia.
No canavial, procedi, passo-a-passo, a todo o ritual que recordava ter ouvido relatar.
Do maço de SG Ventil, já aberto pelo legítimo dono, puxei um cigarro; da caixa de fósforos retirei um que fiz raspar na lixa. Cheguei a chama à extremidade do cigarro e suguei... o cigarro acendeu. (Até aqui, tudo estava correcto). E engoli o fumo que havia sugado por aquele tubo branco cheio de serradura escura.

Conheci, então, um dos maus momentos da minha recente TeenAge.
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Tossi, tossi, tossi. Tossi muito. Tossi tanto! E senti-me tonto, e sentei-me agoniado...
Deitei para o chão o cigarro, ainda inteiro. Não me recordo de o ter apagado. Sei, contudo, que não aconteceu nenhum incêndio. Só eu estava queimado: a garganta arranhada, uma sensação bizarra nas narinas e... uma tontura, uma agonia que não queriam passar.
Voltei a casa.
Bebi água.
Em nada melhorei.
Fui deitar-me. Acabei adormecendo. A ocorrência levantou questões: “Sentes-te bem, filho?”, perguntava-me a Mãe, “Mais-ou-menos.”, respondi debilmente, “Dói-me a cabeça. Se calhar apanhei muito sol na praia...”, avancei, tentando justificar aquela inusitada sesta.
Aparentemente, a justificação pareceu satisfazer a preocupação materna.
O pior estava, ainda, para acontecer, na manhã do dia seguinte.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Feitas as CONTAS (até ao momento):




OU SEJA:
só fumeguei seis vezes hoje.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

FUMO . FUMAÇA . FUMEGAÇA


le 14 JUILLET (1789 / 2010) :

a tomada da PASTILHA!

*
*
Allons Enfants
de la cigarrille!
Le Jour de Gloire
ARRIVERA!

........................................................
BON JOUR FÉRIÉ A TOUTE
LA FRANCE !
............................
*
SALUT, mon Journal!
+
Por lá, eles tomaram a Bastilha...
Por cá, eu tomo a PASTILHA!
.
Trocar uma DEPENDÊNCIA por outra
é o mesmo que
trocar RUGAS por CICATRIZES...
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... Mas é assim que lá vou conseguindo...
Ontem, dia 13, atingi a FASQUIA-DO-DEZ-DE-QUE - só fumei 10 - mas foi mesmo por uma unnhita negra!

Hoje, ver-se-á se.
.
Ça ce n'est pas facile du tout!
Mais, on y arrivera! Plus tôt ou plus tard!
Aux ARMES! Aux ARMES!

A bientôt !

terça-feira, 13 de julho de 2010

13 JULHO 2010 ~~~ uma reflexão ~~~

VÍCIO vs DEPENDÊNCIA
................................................
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Toda a vida ouvi dizer:
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"Maldito vício!"
"Se quisesse, deixava aquele vício!"
"Não quer deixar o vício, é o que é!"
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Se calhou, cheguei a acreditar nas 'vozes'. Hoje, com a idade que já carrego aos ombros; hoje, com a(s) experiência(s) que vivi - nomeadamente: a experiência de ser um VERO FUMATORE - não posso acreditar, tampouco concordar com as piedosas vozesinhas.
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Fumar pode ser apenas (?) um vício, para alguns... Tenho as minhas dúvidas acerca disso.
Creio ser uma simples questão de SEMÂNTICA. Creio, mesmo, ser a única coisa simples no tabagismo!
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Um VÍCIO é um (mau) HÁBITO, é um COSTUME (condenável), um ERRO.
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A prática de FUMAR cigarros é muito mais complexa que isso. Antes não fosse...
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Quando falamos de (um) vício, deveremos querer evocar algo como:
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Enrolar o cabelo nos dedos enquanto se come a sopa;
Roer as esferográqficas;
Dizer palavrões a torto e a direito;
Limpar o nariz sempre na manga do pijama;
Não resistir a enxotar pombos ou perús;
Não resistir a enrolar os cantos das folhas de papel de importantes documentos;
Palitar os dentes em público e ruidosamente;
Falar da vida alheia;
Arrancar nabos da púcara;
Atirar o barro à parede;
Escrever com demasiadas vírgulas;
Vociferar coisas não inteligíveis;
Entrar primeiro, bater à porta depois;
Interromper sistemáticamente a fala de alguém;
Etc;
Etc:
Et cetera...
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Toda a sorte de vícios é susceptível de abandono com, apenas, controlo intelectual - força de vontade. Basta um pouquinho de mais atenção, algum esforço, e a vontade para deixar de roer as unhas ou deixar de arrancar os botões da gabardine quando o autocarro está muito atrasado.
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E por que razão estou tão seguro do que acado de expor?
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PORQUE, em nenhum desses hábitos, existe uma DEPENDÊNCIA associada. Seguramente que não existe dependência física. Se existir uma dependência psicológica... lá está o intelecto a poder fazer o seu trabalho. Pode demorar o seu tempo, pode sim. Pode ser algo penoso, pois pode. Mas, não obstante, será sempre uma questão de FORÇA DE VONTADE.
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Já o TABACO...
O TABACO...
Melhor dizendo: O CIGARRO - é um caldeirão de substâncias químicas (a maior parte delas introduzidas pela indústria tabaqueira) que causam dependência física. Tal qual:
o ÁLCOOL.
Tal qual:
as DROGAS.
[Nas DROGAS incluo, sem reserva, os comprimidos para dormir, os pingos para acordar, as cápsulas para rir, os pacotinhos para não chorar, and so on..,]
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Contra a DEPENDÊNCIA FÍSICA de QUÍMICOS, meus Amigos:
"Boa noite! Estimo as melhoras!"
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Contra a DEPENDENCIA FÍSICA de QUÍMICOS, meus Amigos:
"Qual força-de-vontade, qual carapuça?!"
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Contra a DEPENDÊNCIA FÍSICA de QUÍMICOS, meus Amigos:
"Vou ali, já venho!"
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É duro. Não é aquela romântica ilusão do "Vício-de-Dedo".
Porque NÃO É UM VÍCIO,
É UMA DEPENDÊNCIA, isso sim.
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Talvez seja mais difícil, a um fumador, ver-se privado de cigarros, do quão difícil é, a um não-fumador, encontrar-se privado de comida.
(Falo um pouco de cor... Já passei fome - um pouco mais além da que se passa quando o serôdio jantar chega, por fim, à mesa - mas nada parecido com aquela fome com 'F'. Aquela que, além de ser sentida, é visível.
Mas estou convicto, e possivelmente errado, que a necessidade natural de alimentação não é tão violenta, tão violentamente veloz, tão secamente imperativa como a necessidade de introduzir uma qualquer substância da qual se está dependente).
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De resto, diz-nos a História, não há INDEPENDÊNCIAS sem LUTAS, BATALHAS, DERROTAS e, finalmente, A VICTÓRIA!
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De facto,
não basta
QUERER
para se
PODER.
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Isso seria uma verdade inquestionável, se dependesse só de quem quer. Para deixar de fumar, existem outros factores, outros opositores...
não é uma luta de igual para igual. Os adversários/inimigos são ferozes.
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VÍCIO e DEPENDÊNCIA
NÃO SÃO
A MESMA COISA
!